thaumatrope
naquele lugar de ontem já não se vendem panos coloridos
a ti tiraram-te os anéis de fancaria que mordias quando te apontavam as unhas
no picadeiro onde moravam os carrosséis, a música partiu nas malas dos ciganos
e nas roulottes dos churros
não há lixo no chão que morda a memória
pela tua mão de gemas safiras e rubis trazias deus
feliz e um pouco tocado; de fato de linho amarrotado e panamá,
os pés descalços sobre o calor nocturno da gravilha do chão.
lembro-me que trocou o chapéu por uns chinelos de borracha;
daqueles de enfiar o dedo.
dançámos toda a noite
a miscelânea derramada dos altifalantes das cadeirinhas que voam
e do carrossel de bestas, bicicletas e barris de girar.
agora esse deus atravessa os céus de agosto
montado num burro de lata com rodinhas e corda
usa pistolas; dispara incessantemente clarões de fulminante e palavras inaudíveis
leva um chapéu de cangaceiro com guizos
e grita as saudades dos lugares de ontem do mundo
Thaumatrope (Averno 015)